Reportagem publicada no jornal O Povo, por Amanda Araújo, em 15/06/2020
Na maioria das vezes, trabalho de turbante e escuto alguns comentários do tipo: que cabelo bonito, mas um pouco assanhado, né? Ou até do tipo: não pensa em colocar uns grampos para deixá-lo um pouco mais domado?”. O relato da empreendedora Laura Barbosa, 28, é a ponta do iceberg de uma estrutura histórica de racismo na sociedade, também, refletido nas oportunidades desiguais do mercado. O assunto não é novo, mas o que mudou desde então para mulheres, negros (pessoas pardas e pretas) e Pessoas com Deficiência (PcD)?
“Vemos avanço no estabelecimento de metas para reduzir desproporções dentro das companhias entre brancos e negros, mulheres e homens, pessoas com ou sem deficiência, mas ainda não vemos os resultados objetivos, mudança. A meu ver, as histórias emblemáticas virão quando começarmos a ver, de forma expressiva e consistente, maior participação desses públicos em desvantagem nos espaços de decisão dessas companhias”, diz Ana Lúcia Melo, diretora-adjunta do Instituto Ethos.
Laura por exemplo, nutricionista e barista, chegou a exercer cargos importantes dentro das empresas antes de abrir o Nupê Café (@nupecafe), mas sabe que foi uma minoria. “Ter a pele preta é algo que nos acompanha a vida toda. Mesmo experimentando alguns privilégios sociais, ela não nos livra de situações dolorosas e constrangedoras”, afirma.
No começo, os comentários ouvidos pela sócia-proprietária do Nupê a deixavam triste, ela conta que “dava sorriso sem graça, de canto de boca, e seguia com o atendimento”. “Depois de um tempo, passei a entender o quão pequena de espírito aquela pessoa era e falava alguma coisa, na brincadeira, mas que acabava deixando-a constrangida pelo comentário maldoso, que, algumas vezes, é tão enraizado e naturalizado na fala, que a pessoa não percebe. De certa forma, tinham a intenção de falar e entendiam o que eu tinha para dizer”, explica.
Quando o líder entende esse tema e atua em defesa da diversidade, “ele se torna um espelho para que outros profissionais sejam mais inclusivos e um agente ativo caso ocorra algum caso de discriminação na empresa”, ressalta a professora Liliane Rocha, autora do livro “Como ser um líder inclusivo”, fundadora e CEO da Gestão Kairós consultoria de Sustentabilidade e Diversidade.
Negócios com maior diversidade têm 33% mais chances de performar melhor no mercado, conforme estudo da Delloite, publicado no início deste ano. “Empresas mais diversas são empresas que tendem a ter melhor desempenho financeiro. Esse melhor desempenho não está atrelado apenas à maior presença de mulheres, mas à maior diversidade étnico-cultural”, reforça Ana Lúcia.
Para quem é mulher, negro, LGBTQIA , pessoa com deficiência, a dica de Liliane é entender que a intelectualidade e a competência serão partes do processo. “Você deve saber que vivemos em uma sociedade onde há o preconceito, que esse preconceito poderá vir impactar a sua carreira. É preciso ter muita estrutura emocional para desconstruir o preconceito de outras pessoas e construir conhecimento de diversidade em cima. Para isso, você vai ter que ter que ter inteligência, habilidade, as ferramentas e informações, conhecimentos necessários para lidar com situações de preconceito para que elas não se tornem um entrave em sua carreira”, completa.
> Maior acesso a diferentes perspectivas e fontes de informação;
> Maior compreensão e melhor comunicação com os clientes;
> Aumento da notoriedade da marca;
> Melhor imagem do empregador;
> Performance melhorada;
> Melhor capacidade de resposta e mudança através da criatividade;
> Maior legitimidade;
> Abordagens inovadoras para produtos.
Fonte: Ana Lúcia Custódia, diretora do Instituto Ethos
No Ceará, 27,69% da população apresenta algum tipo de deficiência, de acordo com a analista de desenvolvimento do mercado de trabalho e técnica responsável pelo atendimento à pessoa com deficiência do IDT/Sine, Fátima Almeida. “O estoque de empregos ainda é pequeno, e ainda tem mais um detalhe, nem sempre as empresas têm a preocupação de flexibilizar o perfil das vagas, nem sempre estão preocupadas que por trás tem um ser humano.”
“Meu principal desafio [ao longo dos anos] foi as pessoas não acreditarem no meu potencial por ter deficiência (ele usa muletas). Em uma determinada empresa, fui promovido e um colega falou que eu não seria capaz de exercer aquela função. No final, acabei provando que sou capaz”, conta.
A maior parte das PcD ainda ocupa funções operacionais, explica Jaques Haber, sócio-fundador da iigual Inclusão e Diversidade. “Entre o discurso e a ação, ainda falta muito, se a gente olhar para as 500 maiores empresas, de acordo com o Instituto Ethos, ainda tem uma liderança majoritariamente branca, masculina, heterossexual, sem deficiência, cis gênero.”
O que continua a ocorrer: as empresas contratam PcD apenas para cumprir a cota da Lei nº 8.213/1991. Também buscam aqueles com menor “grau” de deficiência. “Os cegos têm muita dificuldade, pessoas com deficiência auditiva total e cadeirantes encontram muita restrição”, acrescenta Fátima.
De acordo com Jaques, também há um mito sobre o custo da acessibilidade. “O custo da acessibilidade é muito menor do que as pessoas imaginam, às vezes exige pequenas adequações.” Mas, lembre-se, acessibilidade não é apenas espaço físico: sua empresa deve ter softwares para ajudar PcD a executarem tarefas e também um site com tecnologia assistida para o público em geral.
Cláudio Amora busca emprego para funções de caixa, assistente de produção, telemarketing, recepcionista, contínuo, recepcionista e assistente de produção. Entre em contato pelo número: (85) 8813.0601.
35%
é a porcentagem de funcionários negros nas 500 maiores empresas do Brasil
4,7%
é a porcentagem de negros em quadros executivos dessas empresas
Fonte: Instituto Ethos
A iigual surgiu a partir da experiência de vida de Jaques e da esposa dele, Andrea Schwarz (LinkedIn Top Voices 2019). “A gente era um casal de namorados jovens quando ela ficou na cadeira de rodas. Dessa experiência de vida, a gente escreveu o primeiro guia da cidade de São Paulo voltado para PcD. Depois, nasceu a nossa consultoria que tem o foco especializado no mercado de trabalho para PcD”, diz o sócio-fundador.
Com treinamentos, análises de diversidade, recrutamento e seleção especializados, a iigual já incluiu 20 mil pessoas no mercado de trabalho do País, em quase mil empresas. Não são apenas PcD, mas também mulheres, negros e LGBTQIA . O cadastro do currículo é gratuito: https://iigual.com.br/
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